Elevem o Eleven

Foi a primeira experiência num restaurante com estrela Michelin. Neste caso num dos 11 restaurantes em Portugal que tem esse estatuto. Apenas o Vila Joya, em Albufeira, tem duas estrelas Michelin. E também tem o bonequinho da marca Michelin à porta. Serve para pendurar os chapéus. Contaram-me...não sei se corresponde à verdade.

Fomos ao Eleven. Goza de uma vista absolutamente fantástica sobre a cidade dado que se situa no cimo do Parque Eduardo VII e tem enormes janelas viradas para o Tejo.

As expectativas eram grandes. Afinal, das poucas pessoas que conheço que tinham visitado este espaço, todas tinham dito maravilhas. "Vais gostar." Foi esta a frase com que fiquei na memória. O espaço, sendo amplo e acolhedor, prometia. Prometiam também os nomes dos pratos. Todos bastante chiques. "Chique" foi uma palavra usada com regularidade no almoço. Mesmo quando numa dada história se disse "Chico esperto" eu tenho ideia que ouvi "Chique esperto". Estávamos num espaço ultra chique e por isso fazia todo o sentido.

As entradas decepcionaram ainda que tivessem o nome pomposo de Demi-cuit e Consomé. Quando o empregado disse "Demi" eu disse "Moore!". Pensava que era um jogo. Mas não. Prosseguiu, e isso foi uma novidade para mim, com a explicação dos pratos. Nunca me tinham explicado os pratos. E, por isso, a partir de agora se me servirem "Bitoque com ovo a cavalo" eu vou querer perceber o que é que o raio da galinha fazia em cima da vaca no momento da fritura. São preocupações novas da minha vida.

Os pratos principais também eram chiques. De nome. Afinal um "Magret de Pato" não é coisa que se veja em qualquer lado. Curioso perceber que no Jardim Amália Rodrigues, mesmo ali ao lado, existiam patos. Um bocado assustados quando por lá pensámos. Deduzo que voem dali directamente para o Eleven. Também não foi nada de espectacular, confesso.

Foi ótima a sobremesa. Ainda que o nome começasse por "Sopa". E isso, por si só, confere-me desde logo algumas dúvidas. Mas afinal não. Era simplesmente pela apresentação do prato e pela forma cremosa como o gelado se derretia sob o chocolate branco. Muito bom, sim senhor.

A carta de vinhos também mereceu nota máxima. Não que eu aprecie. Mas vinha num livro grosso, espesso, compacto quase em jeito de coleccionador. À distância tanto podiam ser vinhos como toda a colectânea dos últimos campeonatos de Futebol. Mas, quando vimos que vendiam vinho a copo, percebemos que se tratava mesmo de uma carta de vinhos. Não havia dúvidas. Mesmo com uma fotografia do Manuel Vilarinho no interior, seria sempre uma carta de vinhos.

Foi uma experiência nova e diferente. Não digo que não gostei. Nada disso. Simplesmente, e face às expectativas, não cumpriu. Para além de não ter apreciado por aí além a chamada comidinha existiram alguns erros no serviço que acabaram por não ajudar a uma ótima apreciação do local. Talvez, numa nova oportunidade, possamos lá ir tirar teimas. Afinal se é reconhecidamente um local de eleição e com enorme estatuto, quem sou eu para duvidar?

Mas por favor incluam bitock ou bitoqué na lista. Eu escolho esse. Tá bom? Para que o Eleven seja elevado à sua condição de espaço de eleição. Afinal foi em eleições que pensei quando nos puseram na mesa uma caixinha para colocar o valor de doação às instituições beneficiárias deste momento. Aproveitando as eleições no Brasil, votei no Tiririca.

PS. Obrigado à organizadora deste almoço pelo esforço na marcação de mesa para este dia. Thanks!

P.