Festival da Eurovisão - Final

"Há dias assim". Este foi o nome do tema interpretado por Filipa Azevedo na final do Festival da Eurovisão que teve lugar ontem em Oslo, Noruega e que foi tão bem considerado na meia final do concurso. Vi a interpretação portuguesa e dela gostaria de deixar duas ou três notas: primeiro um "dó" porque meteu dó ver todas as flutuações na voz ao longo da canção; a segunda nota vai para a corrente de ar naquela sala que era perfeitamente visível no esvoaçar do cabelo da própria Filipa; a terceira nota vai para a prestação do coro que, segundo o que foi indicado, foi considerado o melhor coro presente. Podemos assim, sem desprimor, dizer que foram uns excelentes "meninos de coro".

Foram 25 actuações. Na realidade 26 se considerarmos a qualidade suprema dos comentários lusos. Frases como: "A França papou 3 pontos"; "Podes falar o que quiseres que eu não percebo nada" em alusão ao júri grego; nós damo-vos 12 pontos e vocês dão-nos metade" referindo-se a Espanha; ou mesmo "Porque é que a Sérvia não nos dá pontos? - realmente não se percebe dado que somos tão próximos - são sempre marcantes para quem está a assistir ao programa.

No final das 25 actuações procedeu-se à votação. É sempre um momento de alguma expectativa. No nosso caso fomos acompanhando com o tilintar dos talheres à refeição. Afinal para manter alguma musicalidade no espectáculo. Os países foram distribuindo votos quase sempre privilegiando os países fortes (como a Alemanha) ou os vizinhos. Por isso é que é tão estranho a Sérvia não ter votado em Portugal. Somos fortes - temos locais como Alfornelos que dignificam todo um país - e somos vizinhos naquele conceito de que podem sempre contar connosco. Vejam os Gregos que vão receber a nossa ajuda quando não temos um tostão. Nós estamos cá é para ajudar, meus amigos. Se nos quiserem visitar, façam favor, que qualquer dia podem chegar até Poceirão num instantinho.

Portugal votou. E mais uma vez deu a pontuação máxima aos vizinhos espanhóis. Espanha retribuiu com a gentileza habitual dando-nos 6 pontos. Há uma cumplicidade notória e comovente entre estes dois povos e que já é histórica neste tipo de eventos. O nosso PM estaria certamente em casa a dizer, no seu fluente espanhol: "Olhia que porrieiro, pah!".

Entretanto, e sempre que cada um dos países acabava de votar, podíamos ver a festa dos participantes que acabavam de recolher 12 pontos no estúdio. A Dinamarca, por exemplo, agitava as bandeiras! Espanha andava de volta das tapas! Mas o que mais apreciei foi que passavam sempre uma imagem de pessoas "em casa" a celebrar. Todos reunidos à volta da televisão a comemorar os pontos. Só achei que parecia tudo muito estudado. Um bocado como nos estúdios de televisão em que alguém nos manda bater palmas.

"Ah, é agora que temos de deixar a pizza e saltar, é isso?"

"Woowwwwwwwwwwwwwwwww!"

E voltávamos ao estúdio onde a apresentadora falava com um representante de um novo país naquela sua simpatia electrizante.

"Boa noite Nadia. Está tudo bem?"

"Está tudo bem."

(...) gerava-se um silêncio na esperança dela também perguntar se estaria tudo bem mas não....nada. E o programa prosseguia.

Ficámos assim em 18º lugar neste concurso. Uma classificação abaixo do que chegámos a fazer mas ainda assim bastante honrosa. Afinal só temos mesmo um vizinho e ainda conseguimos superar os países que possuem mais do que um. E, salvo erro, ainda não permitem que a Madeira e os Açores votem em nós. O que é de lamentar.

Ficamos à espera de nova edição. Porque "há dias assim" em que não saímos vencedores.

P.