terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Fenómenos

Tenho a perfeita convicção que hoje estive perante dois fenómenos. E não, não acredito que me tenha cruzado com o CR9 na rua ou mesmo com uma qualquer personagem do Avatar - absolutamente vergonhoso ainda não ter ido ver a película ainda que aquelas 2h40m me deixem um bocado desconfortável. Nem um balde de pipocas me safa, até porque não aprecio. Não percebo aliás porque é que se generalizam determinados alimentos para determinados eventos. As pipocas ficarão para sempre associadas ao cinema. Porque não uma sandes de leitão? O belo do courato ficará sempre associado ao futebol. Porque não amendoins? E as bolas de berlim com creme são um icone da praia no Verão. Isto porque faz todo o sentido comer algo altamente calórico enquanto estão 40 graus. Eu, por mim, vendia rissóis e croquetes. E só para poder apregoar diria: "Com e sem gordura...". Mal ou bem têm sempre saída e certamente que seriam do agrado destes três públicos!

Mas afinal, onde estão os fenómenos? Pois bem, o meu percurso para o trabalho pauta-se por toda uma permuta de transportes. Passo pelo automóvel - em versão carrinha para transportar a família - pelo comboio da linha de Sintra, pelo metro, um bocadito de skate e até mesmo algum slide para chegar até à minha cadeira. Acho que no dia em que fizer slide para chegar ao meu trabalho serei uma pessoa verdadeiramente feliz. Até lá contento-me com esta inconstância de meios de transporte que me permitem gozar das paisagens! E as paisagens que o Metro tem são de facto uma maravilha! Aquele cinzento das paredes é uma coisa que só vista e apreciada. Por outro lado, gosto imenso do tom monocórdico de anunciar as estações. Tenho a perfeita convicção que se, mudássemos o nome das estações, ninguém iria notar dado que o que interessa é a forma como se diz o nome das mesmas e não o nome em si. Não se surpreendam, se um dia, algum de vocês reparar que a ligação Baixa Chiado - Marquês de Pombal foi substituída por..."Próxima paragem - Picanha. Há ligação com Feijão e Arroz".

Mas afinal, onde estão os fenómenos? A linha de Sintra e o Metro têm de facto características únicas. O carácter anónimo da maior parte das pessoas com que me cruzo faz-me sempre pensar que eu também sou anónimo. E efectivamente sou. E isso permite-me estar atento aos detalhes até porque verdadeiramente não tenho nada para fazer! No comboio ainda consigo, com algum esforço, mexer uma pernita ou mesmo as duas tentando encontrar um espaço. No metro consigo entrar, suster a respiração, fazer a viagem, voltar a respirar e ficar a conhecer em detalhe toda a higiene pessoal de um conjunto de 24 pessoas que, entre estações, me estão a tocar. Há de facto uma cumplicidade assinalável entre estranhos. Perdão, anónimos. E assim continuaremos a ser a menos que a sorte (ou o azar) nos proporcione mais uma viagem alucinante pelo Underground de Lisboa.

Mas afinal, onde estão os fenómenos? Irra, que isto é pior que uma novela mexicana! Bom, no Metro dei de caras com aquele que julgo ter sido o maior bocejo de um ser humano. Passo a explicar: tipicamente apanho o Metro e faço duas estações. A imagem que trago hoje comigo é de uma pessoa que estava de boca aberta em sinal de sono. Nos primeiros segundos fiquei confuso, intrigado. Será que vai espirrar? Será que lhe está a dar uma coisita má? Tu queres ver que está a ganhar fôlego para cantar um clássico da música portuguesa? Nos segundos seguintes testemunhei o bocejo! Foi um profundo acto contínuo sem qualquer tipo de interrupção! Pronto, houve ali só uma pequena respiradela (muito bem disfarçada), mas de resto o bocejo durou o tempo da minha viagem e fiquei a pensar se não teria sido ainda mais prolongado. Quiçá no seu regresso a casa ainda o bocejo se esteja a manter. Não fosse estar em profunda levitação - suportado por todas aquelas pessoas com quem confraternizo neste meio de transporte - e certamente teria imagens para poder suportar o que transmito. Assim fico só com a sensação de ter presenciado um recorde. E já agora, se por alguma razão estiver a ler esta mensagem, transmito que já deu o Vitinho. Pode dormir, sim? Então bom descanso. Deixe estar que eu apago a Luz. Pronto.

O segundo fenómeno já foi no comboio da linha de Sintra no regresso a casa. Havia um qualquer senhor que tentava insistentemente contrariar o princípio da utilidade do telemóvel. Ele não comunicava. Gritava! Havia toda uma necessidade de exteriorizar o que lhe ia na alma. Tenho a perfeição convicção que, para aquela pessoa, a designação MMS se traduz em Muito Muito Som! De certeza que na China alguém se terá questionado: "Já vou, já vou. Dê-me só um minuto que eu já abro a porta!". Soubesse eu chinês e teria feito um brilharete neste preciso momento!

E pronto, por aqui me fico. Espera-me amanhã mais uma voltinha, mais uma viagem!

P.

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